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Infantil-->A VIDA DOS ELEFANTES CONTADA PELO«TROMBINHAS» -- 04/11/2002 - 19:47 (Gabriel de Sousa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sou carinhosamente conhecido no zoo pelo «Trombinhas». Talvez porque tenha vindo pequeno para aqui. Agora estou velhote e cansado do cativeiro mas, apesar de tudo, devo ter estado mais seguro assim do que na selva. Talvez já não existisse se tivesse ficado na Índia. A cobiça dos homens e a caça desenfreada, para negociar com as nossas presas, fizeram autênticas carnificinas. Publicaram entretanto várias leis e a situação alterou-se, mas já muitos de nós tinham sido dizimados para que alguns traficantes fizessem fortuna com o marfim dos nossos «incisivos».

No reino animal temos um lugar muito próprio, fruto das nossas dimensões, do tamanho da nossa tromba, dos nossos dentes e das nossas orelhas. Fazemos as delícias de quem nos vê em espectáculos, tanto a céu aberto, sobretudo nos países asiáticos, como nos circos por esse mundo fora.

Quando era mais novo, recebia com a tromba moedas das mãos das crianças, tocava um sino e tinha direito a um molho de cenouras. Sabia reconhecer as moedas que tinha aprendido a receber. Quando me tentavam enganar, zangava-me e deitava-as fora...

Existem duas espécies de elefantes : os africanos e os asiáticos (como eu). São sobretudo os da Ásia que se vêem nos zoos e nos circos. Somos mais pequenos e menos violentos. Os elefantes africanos chegam a atingir 7500 Kg. de peso. Nós quedamo-nos pelas cinco toneladas. As nossas trombas são resultado da transformação do lábio superior e do nariz num órgão alongado. Usamo-la para comer e para beber e também como se fosse um braço para agarrar coisas ou derrubar obstáculos.
Os nossos «incisivos» crescem durante toda a vida e, em África , chegam a atingir mais de três metros e cerca de 100 Kg.. Curiosamente as fêmeas asiáticas não têm presas.

Habitamos sobretudo onde há vegetação. Vivemos em manadas constituídas por cerca de setenta a cem fêmeas e respectivas crias. Os machos adultos vivem solitários ou em manadas pequenas, por vezes de apenas meia dúzia de indivíduos. Normalmente cada fêmea só tem um filho, se bem que haja alguns casos de dois. Pesamos 100 quilos ao nascer e o nosso período de gestação vai dos 17 aos 25 meses. Os machos atingem a maturidade dos dez aos dezassete anos. As fêmeas são adultas entre os nove e os doze anos, procriam normalmente aos catorze e vivem cerca de setenta anos. Mas não é raro os elefantes atingirem os 100/120 anos.
Ainda me lembro de ir na manada, selva fora, levando tudo à frente. O solo até estremecia e fazia-nos sentir mais pequeninos...

A nossa alimentação é constituída por ervas, árvores e arbustos. Podemos consumir 150/170 quilos por dia. As nossas deslocações pela selva fazem-se procurando alimentação e água, segundo as estações do ano. Fomos sempre domesticáveis, os asiáticos com maior facilidade.

Julga-se que fomos utilizados por alguns exércitos na Europa, no Norte de África e no Médio Oriente, há mais de 2000 anos. Velhos tempos!
A memória da nossa existência leva-nos a 10 mil anos atrás e fomos, quando domesticados, utilizados como animais de carga.
Somos actualmente o maior mamífero terrestre e descendemos dos mamutes e dos mastodontes, que existiram na Era Glacial.

Lembro-me vagamente que um dia, há muitos, muitos anos, um grupo de homens apareceu no local onde estava a nossa manada.
Eu tinha-me afastado um pouco juntamente com outro. Devem ter disparado sobre mim qualquer matéria anestesiante bastante poderosa, porque rapidamente perdi as forças e julgo ter adormecido.
Quando dei por mim, já não estava na floresta mas num local que não consegui identificar. Tive no entanto a percepção que o chão era movediço, ondulante. Estava sobre qualquer superfície que se movia de modo diferente ao que eu estava habituado. Devia ser um Oceano e eu encontrava-me decerto num grande navio cargueiro. Apercebi-me que não estava só. Havia outro elefante, uma fêmea mais velha do que eu.
Com o desenrolar da viagem fui sabendo pormenores. Ela estava destinada ao Circo de Moscovo, eu ao Jardim Zoológico de Lisboa. Nos primeiros dias sentimo-nos muito tristes. Depois fomo-nos habituando e não éramos mal tratados. Sentíamos a nostalgia da selva e dos seus cheiros e ruídos. No seu lugar havia um cheiro que nunca havíamos experimentado, sal misturado com humidade...
Quando aportámos, cada um foi levado para seu lado. Ela certamente para o tal circo, eu para Lisboa, onde me encontro desde então.

Recordo-me dos primeiros dias, num grande terreiro (gota de água comparado com a floresta), rodeado por uma parede alta, de um lado, e por uma fossa e uma cerca do outro. Fui «adoptado» por uma fêmea que já lá se encontrava. Era bem alimentado, mas agora não era eu que procurava a alimentação. Comia o que me davam. Ervas, arbustos e cenouras, coisa que desconhecia até então.

A «minha mãe adoptiva» ensinava-me tudo o que sabia e tratava-me como se do seu próprio filho se tratasse. Também ela estava no zoo desde jovem.
Passados tempos, os tratadores começaram a ensinar-me a arte para que estava destinado.
Aprendi a aceitar com a tromba determinada moeda. Aquela e não qualquer outra... Depois, devia entregá-la a um empregado do zoo e ir tocar um sino, situado num aro que estava situado um pouco mais alto que a minha cabeça. Como recompensa, recebia um molho de cenouras e erva. A pouco e pouco fui-me aperfeiçoando e em breve cumpria a minha tarefa impecavelmente. Estava pronto para aquela que seria a minha futura missão, para alegria e espanto dos visitantes do Jardim, sobretudo da pequenada. Habituei-me a amar as crianças.

As noites recriavam um pouco a vida na floresta, com os seus ruídos e silêncios. Alguns pássaros vinham catar os nossos parasitas. Outros depenicavam os nossos dejectos. Mas apesar de habituado, sempre senti saudades da selva e das corridas ao ar livre, com o chão a tremer à passagem dos nossos pesados corpos...

Passaram-se muitos anos e deliciei várias gerações de visitantes. Hoje, porém, sinto que está a chegar ao fim o tempo que os deuses me deram para viver. Cansado, trôpego, triste, vejo – ao longe – o apelo das crianças cujos pais e avós certamente lhes contam o que eu fazia anteriormente. Já começaram a ensinar outro elefante mas, aqui para nós, não me parece muito dotado. Talvez esteja na «profissão» errada...

No outro dia tive um pesadelo. Sonhei que a terra, daqui a milhares de anos, viria a ser dominada por uns minúsculos seres superiores esverdeados. Para preservar a espécie humana, tinham colocado vários espécimes de cada raça numa espécie de jaulas. Alimentavam-nos sobretudo com frutas e comprimidos, e preocupavam-se muito com a sua reprodução. As crianças brincavam despreocupadas... Acordei e vi que, felizmente, tudo não passara dum sonho.

Quando chegar o momento de morrer (já não deve faltar muito tempo), quero levar a imagem de crianças excitadas e sorridentes, estendendo-me moedas para pagar a minha alimentação. Quero que fiquem livres e felizes. Elas contribuíram, a seu modo, para que eu vivesse feliz e me sentisse livre pelo menos para as amar.
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